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“a thing of beauty is a joy forever”

Ser fã de uma banda antiga nos tempos da internet

No dia das mães, depois do almoço, a família toda se reuniu para tomar um café da tarde juntos e falar abobrinha. Papo vai, papo vem, meu sobrinho de 11 anos chegou pra mim de cantinho e perguntou se eu já havia ouvido falar no Freddie Mercury, o cantor da banda Queen. Obviamente fiquei toda feliz e disse que sim, já havia ouvido falar e, inclusive, essa é a minha banda preferida. O que mais me deixou feliz em toda essa história é que a influência que fez ele conhecer a banda e gostar tanto a ponto de vir cantarolando as músicas não foi minha. Infelizmente, a minha vida é tão corrida ultimamente que mal tenho tempo pra ver meus sobrinhos, que o fará pra apresentar meus artistas favoritos pra eles. Mas, mesmo assim, ele descobriu o Queen na internet, por causa das divulgações da cinebiografia do Freddie Mercury, Bohemian Rhapsody (aka um dos filmes mais emocionantes que já vi).


Ser  talvez seja uma palavra forte demais, já que não acredito muito em ser fã de coisa alguma. Mas eu gosto pra caramba e é disso que se aproxima o meu gostar - embora não seja tão ~~colocar no pedestal quanto uma relação de fã costuma ser. 

Quando penso na doideira que é a internet e no quanto deve ser difícil crescer em um meio virtual, fico feliz por ter tido uma adolescência quase inteira longe de redes sociais. É muita exposição, competição e notícias péssimas sendo bombardeadas todos os dias pra que a pessoa possa crescer em paz. Mas existe um ponto a favor na forma como usamos a internet hoje em dia: o acesso a materiais produzidos por nossos artistas preferidos e como é fácil simplesmente com um clique descobrir uma banda nova e nos apaixonarmos perdidamente por suas músicas.

Já contei essa história algumas vezes aqui no blog, mas não custa repeti-la. Conheci o Queen aos 12 anos, quando estava passando por um momento bem delicado da minha vida e peguei atestado na escola. Foi um mês em casa, praticamente deitada o dia inteiro. Eu nunca gostei muito de televisão, então essa não era bem uma opção, e a biblioteca lá de casa não era muito grande, e eu já havia lido todos os títulos. Meu pai teve uma ideia: me trouxe uns DVDs pra assistir (lembrem-se que a internet ainda não era uma realidade na minha vida) e eu passava meus dias assistindo a filmes e vendo clipes dos grandes hits de décadas passadas. Foi nessas que vi Freddie Mercury pela primeira vez cantando How can I go on? em um dueto lindíssimo com a Montserrat Caballé. Foi amor à primeira vista, literalmente. Toda aquela pose, aquela vibe de ópera, aquele nariz perfeito... Tudo aquilo fez com que eu me apaixonasse. Mas o DVD não indicava qual era o nome daquela pessoa ou daquela música, e eu não era alguém com internet em casa no distante ano de 2006. Na sequência, vinha o clipe de Spread your wings, a primeira música do Queen que conheci de fato. Ainda hoje é uma das minhas músicas preferidas.


Demorou algum tempo para que eu conseguisse descobrir informações sobre o cantor e a banda. Quando meu irmão começou a namorar a minha cunhada, pude finalmente descobrir o maravilhoso mundo da internet porque ela tinha um computador com internet em casa. A primeira coisa que fiz, obviamente, foi pesquisar por trechos das músicas que eu havia, com o meu conhecimento de inglês quase nulo, conseguido entender. E foi assim que eu conheci o Queen.

Voltamos para o ano atual. Agora que a gente não entra mais na internet, já que estamos sempre conectados a ela, esse tipo de história parece quase inventada. Quem diabos passaria horas de sua adolescência hoje tentando entender, de ouvido, a letra de uma música em inglês pra depois procurá-la em uma internet que funcionava à base da discagem? Mas eu passei e fiquei anos obcecada em descobrir tudo sobre aquela banda.

É muito estranho pensar que boa parte da minha vida até agora se passou longe da internet porque hoje TUDO é internet. A gente trabalha com a internet, a gente se conecta com as pessoas pela internet e a gente é fã na internet. Acho que não tinha essa noção real até o ano passado, quando Bohemian Rhapsody foi lançado e eu entrei pra um grupo de gente que gosta do Queen. Eu não sei lidar com muitos grupos e conversas intermináveis no whatsapp, então fiquei mais ali, à margem, observando a conversa dos jovens e salvando lindas fotinhos que eu nunca havia visto dos meus quatro meninos preferidos em seus dias de juventude.

O legal desse grupo é que ele é composto em massa por uma gurizadinha em seus 14, 15 anos que basicamente nunca havia ouvido falar do Queen antes do filme. Tem fãs por aí que acham isso horrível e reclamam que essa galera está estragando tudo, mas eu acho o máximo que adolescentes estejam se envolvendo tanto com uma banda que aconteceu há mais de 40 anos. Lendo as conversas deles pude perceber que a relação que eles têm com a música é muito diferente da minha. Para eles, a música é virtual e ser fã é mostrar isso na internet. Não é tanto aquela coisa de ter objetos físicos, mas sim de colocar essa característica na sua persona online para se comunicar com mais pessoas que também gostam do que você gosta. O orkut tinha um pouco disso, mas depois senti que deu uma boa decaída com os algoritmos estranhos da outra rede social. Porém, no twitter e nesses grupos de whatsapp de fandom, a coisa continua a toda.


Hoje esse pessoal da idade do meu sobrinho descobre as músicas pela internet e em minutos já sabe tudo sobre a banda e proclama amor eterno. Eu levei anos pra saber dos detalhes dos bastidores do Queen. Claro que falo aqui do Queen, pois é a minha banda preferida sempre, porém toda a minha formação musical foi na base da MTV, DVDs de shows e compilados de hits antigos e trilhas sonoras de filmes e séries (Supernatural, te dedico). Em 2006 já tinha muita gente com internet em casa e acesso a (quase) tudo isso - porque temos que lembrar que a internet não era essa coisa absurda que a gente vê hoje e, mesmo para quem tinha acesso, a coisa era limitada -, mas eu não tinha e isso me deu a possibilidade de ter um contato com a música que talvez as pessoas nunca mais tenham a partir de agora.

Não estou romantizando o passado, veja bem, se chegassem pra meu eu adolescente e dissessem que dali a poucos anos eu teria a possibilidade de descobrir tudo sobre a banda em poucos cliques eu ficaria bem doida e inventaria a viagem no tempo. A descoberta lenta parece bonita e romântica, mas foi um saco. A única coisa boa foi que pude aprender inglês, já que me forcei a estudar inglês em casa pra entender as letras do Queen. (A determinação da jovem adolescente fã de qualquer coisa é algo admirável.)

Daqui a alguns meses este blog vai completar 10 anos e durante essa década inteira eu sempre dei um jeito de falar do Queen na internet. O blog tá cheio de arquivos em que eu enalteço essa banda maravilhosa, e tem sido incrível ter essa experiência de gostar de uma banda antiga nos tempos da internet. Mas acho que nunca terei aquela intensidade toda da descoberta de uma foto sequer dos meus meninos favoritos de quando eu era adolescente, seja pela idade, já que TUDO É MUITO na adolescência, seja pela dificuldade que existia pra ter acesso a qualquer coisa na época, ou seja, qualquer fotinho que fosse se tornava uma espécie de tesouro que eu imprimia e guardava com muito cuidado e carinho.

Ver meu sobrinho descobrir o Queen é uma coisa linda demais, ainda mais porque agora ele já tem acesso a toda a discografia da banda, fotos e biografia de cada membro, sem precisar passar pelo tormento de querer saber e não poder pelo qual eu passei. Viva a internet. ♥


Este post foi inspirado pelo tema do mês do Together: coração de fã. O Together é um coletivo de blogs que escrevem sobre temas em comum mensalmente. Conheça! 

Comentários

  1. Que lindo seu post! E me identifico muito!
    Eu era (talvez ainda seja) MUITO fã da Kelly Key, Rouge e RBD. Foram os primeiros artistas que virei fã, ainda criança. Eu sabia TODAS as músicas e as coreografias ao decor e quando meus pais podiam comprar algum objeto deles, eu ficava IMENSAMENTE feliz!
    Passei por esses momentos maravilhosos sem usar a internet, somente vendo eles na TV e ouvindo seus CDs, apenas uma pequena exceção para o RBD, pois um tempo depois de eu começar a ser fã deles, comecei tbm a usar a internet (ali por 2006), mas eu não podia ficar muito com o computador ligado, então eu aproveitava o tempo que me era permitido pesquisando sobre a banda e salvando fotos dos integrantes HAHSAUHUS
    Agora as coisas estão diferentes e é legal quando a gente vê uma criança ouvindo aquela banda ou artista que a gente ouvia a uns 10 anos atrás e o mais legal ainda é que temos acesso de forma fácil às músicas que não ouvíamos a anos e podemos matar a saudade!

    Amei seu post e sei como você se sente <3

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  2. me senti muito contemplada por esse post, mia :) eu era do grupinho dos emos hahaha (mesmo que na época fosse a maior ofensa se autodenominar assim).
    lembro do nervosismo que era assistir disk mtv e esperar que meus clipes favoritos tivessem no top 10. nem sabia oq era youtube!
    fui ter computador bem mais tarde do que a maioria dos meus amigos, já perto dos 13 anos, e mesmo naquela época a internet era muito diferente. as redes sociais não tinham o significado que têm hoje e eu basicamente entrava no orkut para conversar com pessoas por meio dos tópicos das comunidades.
    agora é muito mais fácil descobrir uma banda. tem até app que descobre pra vc em segundos!
    acho que não é sobre romantizar o passado, mas reconhecer que ser fã há alguns anos requeria muito mais dedicação e força de vontade hahahah

    bjs mia :D

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