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“a thing of beauty is a joy forever”

Sol da Meia-Noite, de Stephenie Meyer


Lembro de estar numa comunidade do Orkut dedicada a livros quando ouvi falar pela primeira vez em Sol da Meia-Noite (Midnight Sun, no original), livro de Stephenie Meyer que contaria os eventos de Crepúsculo a partir da visão de Edward Cullen, o interesse amoroso de Bella Swan, a protagonista da saga. Na época, não gostava nada da história e não me interessei pelo livro. Os anos passaram e, certo dia, acordei gostando de Crepúsculo, simples assim. 

Aceitei o fato e passei a maratonar os filmes e a reler os livros sempre que sentisse a necessidade de voltar ao universo de Forks. A Saga Crepúsculo virou uma história-conforto para mim, fazendo com que meu eu adolescente, que ria das colegas por terem pôsteres do Robert Pattinson, agora sinta-se envergonhada por ter agido daquela maneira e muito contente com seu pôster da cena emblemática de Edward e Bella na clareira, que veio junto ao exemplar de Sol da Meia-Noite

Ainda é Crepúsculo. Toda a história central é a mesma, assim como as personagens. Stephenie Meyer não decidiu inventar a roda e modificar sua primeira criação. Mas ela nos deu a perspectiva de Edward da história. Conseguimos entender melhor seus sentimentos, a forma como ele pensa e o quão atormentado ele é. Edward, como todos os vampiros da saga, não somente congelou na aparência que tinha ao ser transformado, mas também cristalizou os gostos pessoais e visões acerca do mundo. Embora tenha seu um século de existência, ele é um adolescente de dezessete anos, para todos os efeitos. 

E isso não facilita em nada a forma como lida com o que sente por Bella. No momento em que a conhece, a atração, a princípio causada pelo cheiro da garota, o faz comportar-se exatamente da mesma forma que um adolescente com superpoderes se comportaria. Não importam todos seus anos e suas experiências: no campo do amor, Edward é novato. Ele está vivendo seu primeiro amor com toda a intensidade de emoções que um adolescente viveria, mas de forma ainda mais intensificada porque tudo em vampiros é maximizado. 

Saber disso com maiores detalhes foi ótimo. Durante as leituras dos quatro livros originais de Crepúsculo, assim como a cada vez que assisti aos filmes, me perguntei como Edward poderia ser tão imaturo e obcecado por uma garota que ele a recém havia conhecido, comportando-se como um verdadeiro adolescente, embora fosse vampiro há mais de setenta anos. Isso é explicado em Sol da Meia-Noite quando ficamos sabendo, com maior clareza, que a mente dos vampiros também mantém-se estável, assim como seus corpos. Edward não suportar estar longe de Bella, desejar observá-la dormindo e passar seus dias pensando em todas as maneiras como ela pode rejeitá-lo torna-se perfeitamente compreensível a partir disso. 

Mas Sol da Meia-Noite não é interessante apenas por isso. O livro, que tem mais de setecentas páginas, possui narração em primeira pessoa, diretamente dos sentimentos de Edward. Contudo, como ele possui a habilidade de ouvir pensamentos, o efeito que temos é o de uma narração múltipla, com diversas pessoas falando diretamente aquilo que estão pensando, sentindo e enxergando. Conhecemos também a mente de Jessica, que é repleta de inveja e desconfiança; a de Mike, que está longe de ser gentil com as mulheres; a de Angela, que é clara e tranquila... Esses personagens, que ficam tão em plano de fundo nos livros originais, ganham maior destaque aqui pois, apesar de não possuírem tantas falas, é através de seus olhos e pensamentos que Edward enxerga o mundo de Bella, tentando desvendá-la. 

Sua família também possui maior destaque nesse livro e foi excelente conhecer um pouco mais a relação de Edward com Esme, sua mãe dentro do clã vampírico. Emmett e Alice também se sobressaem, e até Jasper ganha contornos mais definidos. No entanto, é frustrante ver Rosalie ser retratada como uma mulher frívola. A história de como tornou-se vampira, contada nos volumes anteriores, é sensível e incrível a ponto de merecer um livro inteiro para ela, que é uma personagem mais complexa do que Sol da Meia-Noite nos apresenta. 

Sol da Meia-Noite
Stephenie Meyer
Tradução: Carolina Rodrigues, Flora Pinheiro, Giu Alonso, Maria Carmelita Dias, Marina Vargas e Viviane Diniz
Intrínseca
736 páginas 
Ano de publicação: 2020 

Algo que me surpreendeu foi o quão mais gostei de Bella. Já gostava dela nos livros anteriores, no entanto, eles são narrados por ela, que possui uma autoestima bem baixa, o que está longe de fazer jus a quem ela é. Ainda que não passe de uma garota comum, descobrimos que ela realmente é uma pessoa interessante. Como é Edward quem narra a história, sabemos o que ele pensa dela, descobrimos seus pormenores, desde seus livros preferidos (que, em grande parte, são os mesmos meus) até características como gentileza, bravura e altruísmo, que a tornam notável. Também descobrimos que seus colegas, amigos e até mesmo pessoas que não a conhecem direito admiram-na por suas qualidades. Bella não se enxerga assim, mas ela é uma personagem corajosa e determinada, muito mais incrível do que parecia quando falava o que pensava de si mesma na saga. 

O Edward que conhecemos em Sol da Meia-Noite é constantemente ansioso e inseguro, bem diferente da figura quase divina que Bella narra em Crepúsculo. Ele é uma espécie de Louis, de Entrevista com o vampiro, porém menos melancólico, pois encontrou o amor. No entanto, seu tormento é semelhante: ele não quer ser um monstro. Mais ainda, ele não quer transformar a pessoa a quem ama num monstro também. Edward passa o livro inteiro lutando não apenas contra seus instintos, mas contra a visão de Alice, que mostra um futuro certo para Bella: ela, tão imortal quanto eles.

"Não sabia ao certo por que estava perdido em tantos pensamentos sombrios. Precisava me controlar. Tinha que agarrar cada segundo de felicidade que me fosse permitido, ainda mais porque esses segundos estavam contados. Eu sabia que tinha uma capacidade inacreditável de arruinar até os melhores momentos com minhas dúvidas malditas e reflexões intermináveis." 


Um ponto alto do livro são as visões de Alice. Com seu dom psíquico, Edward não somente ouve o que as pessoas estão pensando, como também visualiza o que elas veem, seja no momento presente ou em lembranças. Portanto, quando Alice tem uma visão, Edward também a enxerga. Isso faz com que a carga dramática do livro seja muito mais intensa, mais do que pensávamos que seria para ele quando lemos os livros narrados por Bella.

Sol da Meia-Noite me deu vontade de ler um livro inteiro sobre a Alice, desde suas origens - que são reveladas, mas ainda de forma obscura - até seu encontro com Jasper e com os Cullens. Um novo livro da Saga Crepúsculo abre a possibilidade de outros livros abordando a perspectiva de outros personagens. Stephenie Meyer já afirmou, em entrevista, que pretende escrever mais dois livros no universo vampiresco. No entanto, infelizmente, ela não pretende voltar à narrativa sob o ponto de vista de Edward. Segundo ela, isso seria uma tortura, já que ele é um personagem muito ansioso. Ela não está errada, mas, honestamente, gostaria de ler Lua Nova a partir da perspectiva dele. (E Eclipse, e Amanhecer, risos.)

Quando a editora Intrínseca lançou o livro, houve diversos comentários nas redes sociais reclamando que o papel utilizado para a impressão era de uma qualidade inferior, transparente e dificultava a leitura. Contudo, preciso dizer que não considero isso verdade. O exemplar físico de Sol da Meia-Noite é muito bem feito, desde a tradução, passando pela revisão e diagramação e indo até o material bruto utilizado pela gráfica. O papel é de boa qualidade e o livro ficou leve e de fácil leitura, embora possua quase oitocentas páginas. Só tenho elogios ao trabalho da editora.

Foi bom voltar a Forks e entrar na mente de Edward. Mal posso esperar para ler outros livros ambientados no mesmo universo.


Se interessou pelo livro? Você pode encontrá-lo clicando aqui.

Comentários

  1. Mia! Li essa resenha saboreando cada linha! Crepúsculo foi minha paixão dos 16 anos, minha vergonha da primeira juventude pós-escola e minha auto-sinceridade em admitir que nunca deixei de amar esse universo, mesmo quando fazia piadas e mentia pra mim dizendo que assistia aos filmes pra ser sarcástica.

    "Conforto" foi uma palavra que você usou, e eu concordo demais. É isso. E saber que O Sol da meia-noite é tão intenso e longo (não poderia ser menor, já que é Edward e várias pessoas na cabeça dele), me deixou feliz demais. Vou tentar ler devagar, por mais que quando eu engate numa coisa vai tudo de uma vez.

    Fiquei pensando aqui em Fragmentado. Não que ele tenha a mesma condição que os 27 personagens do James McAvoy, mas dá até pra lançar um paralelo. E também pensei no romantismo, Edward nasceu mais ou menos em 1900 né? Alguns anos após o movimento, mas que era recente então definitivamente deixou marcas. Isso também explica essa paixão avassaladora que foi tão problematizada por pessoas de nossa geração. Achei inteligente demais a Stephenie pensar algo assim, fica tudo bem entrelaçado e mostra como a saga não tem nada de boba, por mais que mintamos para nós mesmas. hehe.

    E é legal também como um casal de apaixonados enxerga algo no outro que o outro não enxerga. É assustador porque é real, mais comum do que podemos perceber.Todos temos nossa medida de insegurança, e aos olhos daqueles que nos amam, somos muito mais incríveis, porque cada um exalta um lado dessa personalidade em questão.

    Vou ler e reler a saga toda! Espero que ela cumpra o prometido dos próximos livros.

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  2. Foi Crepúsculo que me tornou leitora! E apesar de eu ter odiado a releitura que fiz do livro em 2017, ele ainda tem um lugarzinho no meu coração <3

    Comprei Sol da Meia-Noite na pré-venda, coisa que eu geralmente não faço, mas era SOL DA MEIA-NOITE! Fui lendo aos poucos, pois estar dentro da cabeça do Edward = cansativo, mas gostei da leitura.

    Acredita que só lendo Sol da Meia-Noite que eu comecei a pensar em algumas coisas que já deviam ser óbvias? Tipo essa coisa da idade. O Edward tem seu mais de um século, mas a mente dele parou na adolescência. E é por isso que crianças não podem ser transformadas em vampiros, porque por mais que elas vivessem anos elas ainda seriam crianças arteiras com o plus da sede de sangue kkkkk

    Também não gostei do jeito que a Rosalie foi retratada. Logo no começo do livro o Edward fala umas coisas sobre ela que me deixou ARGH! Aí parece que a Stephenie retratou ela como uma viciada em carros pra dar mais personalidade pra personagem. E comecei a gostar mais da Esme depois de ler esse livro, porque antes eu achava ela bem desinteressante. Gostei ainda mais da Alice, até fui procurar aqueles mini-filmes que foram feitos faz uns anos falando sobre o passado dela e tal depois da leitura XD

    Só fiquei sabendo dessa treta com o papel do livro tempos depois, porque li em e-book. Ai, esse povo!

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    Respostas
    1. Voltei aqui porque eu esqueci de comentar uma coisa e não conheço ninguém mais que se importe com Crepúsculo/Sol da Meia-Noite com quem eu possa comentar kkkkk Enquanto eu lia Midnight Sun, eu ouvi a música I See You - Missio e achei muito a cara do Edward/Bella! Entrou pra minha trilha sonora do livro XD

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  3. Muito legal sua resenha. Eu amava Crepúsculo quando era adolescente, li todos os livros, mas não consegui terminar Amanhecer. Lembro que também amei os filmes.
    Acho que se ela tivesse lançado o Sol da meia noite antes eu animaria a ler, mas acho que hoje não teria vontade.
    Beijos

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